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O jornalista Ricardo Cappelli escreve que o ex-presidente Lula disputará essa eleição mesmo que condenado, preso e impedido.

Ricardo Cappelli*

O PT já esteve com sua missa de sétimo dia encomendada. Acuado e encurralado, soube sair das cordas e ressurgiu como fênix ao exercitar uma incomum amplitude política. O caminho para este desfecho foi longo e tortuoso. Ao final, com a política no comando, retomou o leme e venceu.

O Mensalão tinha tudo para se transformar na tragédia grega da esquerda brasileira. Depois de Lula em 2010 com 90% de aprovação, as pessoas talvez esqueçam que apenas 15 votos separaram o triunfo da derrota histórica. O líder metalúrgico representante da epopéia de superação de nosso povo poderia ter voltado para casa cassado pelo Congresso, humilhado e com a pecha de corrupto.

Com o escândalo detonado por Roberto Jeferson nas alturas, circularam boatos em Brasília que Lula assumiria seus erros e faria um pronunciamento renunciando. Cardeais do governo batiam cabeça, acusações mútuas nos bastidores viraram rotina. Com a economia patinando em função de um forte ajuste fiscal e a imprensa martelando a imagem de um governo enlameado, um pedido de impeachment era questão de tempo.

Hegemonismo e vaidade são pecados sedutores, quase irresistíveis. Quem consegue passar na frente do espelho sem dar uma olhadinha? Mandar em tudo sozinho deve ser super afrodisíaco. “Sexo é para principiantes, bom mesmo é o poder”, ensinava o falecido Sérgio Mota.

Como ninguém é de ferro, no meio de uma crise monumental o partido dos trabalhadores lançou à presidência da Câmara dois candidatos. O oficial, Greenhalgh, e o “paralelo”, Virgílio Guimarães. Resultado? Severino Cavalcanti, do PP, acabou eleito. Folclórico representante do baixo clero, o “micheteiro do restaurante” caiu logo depois. A crise se agravava e o desfecho estava nas mãos do PT.

Lançar um candidato do partido ou apoiar uma coalizão mais ampla com um nome de outra legenda? A sabedoria, mesmo que tardia, prevaleceu. Estava em jogo o futuro de um povo, não a afirmação de uma ou outra legenda. Aldo Rebelo, articulador hábil com muito trânsito na casa, do PCdoB, um partido com pouco mais de uma dezena de deputados, virou o candidato do governo.

Seu opositor foi José Thomaz Nonô, do finado PFL. O empate no primeiro turno por 182 votos fez Brasília congelar. A vitória de Nonô seria a abertura do processo de impeachment. Naquela conjuntura, dificilmente Lula resistiria. A vitória de Aldo por 258 votos contra 243 de Nonô foi uma virada histórica. Comandada por uma tropa ampla de aliados do governo, deixou muitas lições. O que poderia ter sido o fim virou um recomeço.

Lula é a maior liderança brasileira. O PT o maior partido. Quaisquer que sejam os candidatos ou seus partidos é o Lulismo que enfrentará um plebiscito nas próximas eleições. O ex-presidente disputará essa eleição mesmo que condenado, preso e impedido. É sua história e trajetória que serão julgados. Se ganhar um candidato apoiado por ele, fruto de uma ampla coalizão, é Lula que será vitorioso.

Independentemente do candidato da coalizão ser ou não do PT, se ganhar, o partido dos trabalhadores será o grande vencedor. Um alvo caçado de forma odiosa que teve a capacidade de driblar o inimigo e triunfar.

Enfrentar um inimigo poderoso de peito aberto oferecendo o rosto desprotegido é suicídio. Dar cabeçada na parede pode não ser o caminho mais inteligente. O mais importante é que o Lulismo não pode perder. Como ganhar? A história recente é boa conselheira.

*Ricardo Cappelli é jornalista e secretário de estado do Maranhão, cujo governo representa em Brasília. Foi presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes) na gestão 1997-1999.