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Brasília está entre as três cidades do país onde os congestionamentos mais reduzem chances de trabalho. Pedágios urbanos e melhoria na oferta dos sistemas de transportes são soluções apontadas por pesquisadores

Mais impactadas são os que residem em áreas mais distantes, que não conseguem acessar oportunidades na área central da cidade -  (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)

Mais impactadas são os que residem em áreas mais distantes, que não conseguem acessar oportunidades na área central da cidade – (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)

A capital do país está entre as três cidades do Brasil onde o congestionamento mais impacta no acesso a oportunidades de emprego. O dado é resultado de estudo feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e divulgado no início de setembro.

A pesquisa mostra que São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília têm os maiores níveis de congestionamento, causando uma redução da quantidade média de empregos acessíveis. Implementação de pedágios urbanos e aumento da oferta e cobertura dos sistemas de transportes são soluções sugeridas pelos pesquisadores para redução dos congestionamentos e consequente melhoria no acesso às oportunidades.

O impacto do congestionamento no acesso a empregos em São Paulo é de 40,7%, no Rio de Janeiro, de 35,1%, e, em Brasília, 24,6%. Os municípios onde os congestionamentos menos impactam no acesso aos empregos são São Gonçalo (RJ), com 3,2%, Campo Grande (MS), 2,1%, e Goiânia (GO), com 0,6%. 

O economista César Bergo avalia que a causa é a grande quantidade de veículos de passeio nas ruas. “Brasília padece de qualidade em transporte urbano. O modal rodoviário é a prioridade e isso faz com que as vias fiquem congestionadas. Os horários de trabalho são os mesmos, não existem horários intercalados. Isso gera um efeito manada. Praticamente todas as vias do DF têm problema de congestionamento. Somado a isso tudo, tem as obras no segmento rodoviário, que acabam comprometendo o fluxo de veículos”, afirmou. “Optar pelo metrô e ônibus seria uma saída, investir em transporte sobre trilhos também. As soluções existem, mas, do ponto de vista financeiro e político, elas custam caro”, completou.

De acordo com o estudo, “a abordagem de acessibilidade revela que as pessoas mais impactadas são as que residem em áreas mais distantes, pois não conseguem acessar as oportunidades no centro da cidade devido aos engarrafamentos, que tornam o centro impermeável para quem está fora dele”. Na média de todas as cidades, os congestionamentos reduzem em 23,5% o número de empregos acessíveis pela população de baixa renda, enquanto essa redução é de apenas 5,5% para os mais ricos.

Em Brasília, para quem mora longe do Plano Piloto, encontrar emprego é desafiador. Júlia Ferreira, 20 anos, por exemplo, é moradora do Paranoá e se recorda das dificuldades que vivenciou para conseguir empregos, devido à distância e ao tempo de deslocamento. “Não me contratavam, pois tinham receio de eu me atrasar ou simplesmente não chegar ao trabalho algum dia devido ao tempo de transporte. Me senti desvalorizada, por não levarem em conta a minha qualificação, mas sim o local onde eu morava”, desabafou. Atualmente está em um estágio que lhe demanda 50 minutos de deslocamento e duas conduções. “Já aconteceu do ônibus quebrar e eu não conseguir chegar a tempo. Mas entenderam”, relatou.

Pelo fato das atividades econômicas estarem concentradas na área central de Brasília, o acesso às oportunidades por parte da população que mora em outras regiões administrativas é dificultado. “Como as pessoas têm uma dependência alta do transporte rodoviário terrestre e há uma frota muito grande de carros no DF, as ruas ficam sobrecarregadas, com o agravante de várias obras estarem sendo realizadas ao mesmo tempo, causando um estrangulamento das vias e aumento do tempo de congestionamento. Passamos por um verdadeiro colapso do sistema viário”, avaliou o professor de engenharia de tráfego da Universidade de Brasília (UnB) Paulo César Marques.

Tarifas caras

Ainda segundo a pesquisa, do ponto de vista econômico, o aumento dos custos de transporte causados pelos congestionamentos encolhe as áreas de alcance de mercados e de trabalhadores. Larissa Alves, 19, moradora da Cidade Ocidental (GO), mantém-se à procura de um emprego desde o início do ano. Em algumas entrevistas, disseram-lhe ser complicada a contratação devido à distância, mas nunca mencionaram diretamente o valor do vale transporte, ponto que, segundo a jovem, tem provável relação com as recusas, devido ao preço elevado da passagem. “Costumo procurar trabalho em Brasília e em Taguatinga, onde há maiores oportunidades. Porém, a depender do trânsito, o trajeto leva cerca de 50 minutos”, disse.

Para o professor Paulo César Marques, o alto valor das tarifas de ônibus para o Entorno também influencia na dificuldade de acesso aos empregos. “Para as empresas, no caso do transporte coletivo, o vale transporte sai mais caro quando os funcionários se deslocam de muito longe. A falta de integração institucional entre os órgãos públicos que administram o transporte coletivo no DF e cidades vizinhas dificulta e encarece o valor da passagem”, analisa. “Hoje, são três entes diferentes responsáveis pelo transporte coletivo urbano entre o DF e o Entorno: os governos do DF e de Goiás e a Agência Nacional de Transporte Terrestre (ANTT). Já passou da hora de ter um ente local da área metropolitana que cuide da integração do transporte terrestre de Brasília para o Entorno. O sistema de transporte dentro de Brasília é subsidiado pelo GDF, mas, no caso do transporte semiurbano, não tem quem pague o subsídio”, acrescentou.

Longas distâncias

A pesquisa do Ipea apresenta que “os casos analisados das três maiores metrópoles brasileiras nos mostraram como é necessária, nesses casos, a inclusão das parcelas mais pobres da população em bairros mais bem localizados, estimulando a demarcação de zonas de habitação de interesse social, por exemplo”.

A moradora da Fercal, Marcela (nome fictício), 21 anos, já passou por vários processos seletivos e relata que tinha dificuldade de avançar para as próximas etapas sempre que falava onde morava. “Na Fercal, passa poucos ônibus e os que passam são aqueles com tarifa de R$ 5,50. Depois de muitas tentativas frustradas de passar em entrevistas e processos seletivos, passei a apresentar o comprovante de residência da minha tia, que mora em Sobradinho, e digo que moro com ela”, confessou. “As pessoas que conheço que moram na Fercal têm fama de se atrasarem para chegar no trabalho. Algumas, muitas vezes, não vão trabalhar porque já tem pouco ônibus lá, quando um quebra, não tem como se deslocar”, disse.

Pastor Willy Taco, mestre em transportes e professor da UnB, acredita que a solução está na reorganização urbana de forma que as oportunidades de emprego não estejam mais tão distantes das pessoas. “Enquanto não tivermos uma pauta definida para priorizar o transporte público e uma política definida para estruturar a cidade de forma que as pessoas não precisem se deslocar para tão longe para trabalhar, não tem como resolver o problema. Não é fácil nem rápido resolver o problema. Teria que haver uma mudança substancial do pensamento da gestão pública. É preciso uma visão a longo prazo”, analisou.

Com informações do Correio Braziliense

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