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Pesquisadores da UFMG ganharam prêmio de 500 mil euros e se preparam para iniciar fase de teste em humanos

Operação policial na cracolândia, em São Paulo: cientistas brasileiros obtiveram bons resultados em imunizante que impede efeitos da droga  -  (crédito:  Nelson Almeida/AFP )

Operação policial na cracolândia, em São Paulo: cientistas brasileiros obtiveram bons resultados em imunizante que impede efeitos da droga – (crédito: Nelson Almeida/AFP )

A vacina Calixcoca, desenvolvida pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), trilha novos passos em direção à aprovação para o tratamento de dependências químicas. No início de outubro, a pesquisa responsável pela iniciativa venceu o Prêmio Euro em inovação na saúde e recebeu um investimento de 500 mil euros. Agora, de acordo com o pesquisador e coordenador da pesquisa, Frederico Garcia, o estudo aguarda os investimentos já concedidos para registrar o medicamento e dar início aos testes clínicos.

“Estamos bem perto de ter a primeira vacina latino-americana antidroga. Ela não é uma panaceia, não é uma solução definitiva. Mas em um lugar onde não existe nenhum medicamento registrado, ela se mostra eficaz nos estudos e pode ser um benefício para as pessoas que sofrem com essa dependência”, comentou o pesquisador ao Correio.

“Para dar o próximo passo, estamos aguardando o governo de Minas Gerais, que prometeu um recurso de R$ 10 milhões. Esse valor será usado para sintetizar o lote dentro das normas que são exigidas pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), para assim testarmos o uso em humanos”, detalha Garcia.

A pesquisa está em andamento desde 2015. Obteve resultados positivos nos testes pré-clínicos, que foram realizados em ratos. Com o uso da substância, foi possível observar a produção de anticorpos que bloqueavam a passagem da cocaína para o sistema nervoso dos roedores.

Garcia explica que, antes de desenvolver a pesquisa, já havia estudado publicações internacionais sobre vacinas antidrogas. No entanto, a principal inspiração para dar início à pesquisa foi uma norma publicada pelo Ministério Público de Minas Gerais em 2013. Nela, foi determinado que mulheres grávidas que fossem usuárias de drogas deveriam ser denunciadas pelos médicos obstetras ao Ministério Público para que os bebês fossem retirados dos cuidados delas.

“Então, de uma hora para outra, em um ambulatório de dependência química que eu coordeno, apareceram dezenas dessas mulheres pedindo: ‘pelo amor de Deus, me ajuda a tratar, que eu não quero ficar sem o meu filho’”, relembra o médico.

Ante o cenário, ele se juntou a Angelo de Fátima, também professor da UFMG, e ambos decidiram desenvolver uma nova molécula a partir da própria cocaína, que recebeu o nome UFMG-V4N2. “A gente modifica a cocaína para ligar ela a essa plataforma vacinal, chamada de cálix, para que, assim, ela possa ser usada como vacina”, explica Garcia.

“É bastante original em termos de plataforma de pesquisa, porque é uma molécula totalmente sintética, ou seja, ela não precisa ser fabricada por bactérias, por fungos. É fabricada em um laboratório. Quase todas as vacinas são produzidas por esses modelos biológicos”, completa o pesquisador.

Segundo ele, outra vantagem dessa solução é não trabalhar com materiais biológicos é a diminuição do custo de produção, especialmente considerando a logística de transporte e as condições de armazenamento da vacina.

    Aliada no tratamento

    A dependência química é um dos grandes desafios da saúde pública. Um exemplo é a proliferação de cracolândias em grandes centros urbanos. Segundo dados do Sistema Único de Saúde (SUS), em 2021, foram registrados cerca de 400 mil atendimentos a pessoas com transtornos mentais e comportamentais causados pelo uso de substâncias químicas, sendo quase 32 mil por uso de cocaína.

    De acordo com relatório divulgado este ano pelas Nações Unidas, o consumo de cocaína no mundo aumentou depois da pandemia. Cerca de 22 milhões de pessoas consumiram a droga em 2021. Naquele ano, a produção do entorpecente na América do Sul — principal fornecedor em escala global — bateu um novo recorde, com 2,3 mil toneladas de cocaína pura. América do Norte e Europa são os principais destinos, mas a ONU observa um preocupante avanço na África e na Ásia. Outras estimativas, ainda não atualizadas, indicam que o Brasil rivaliza com os Estados Unidos entre os países com maior índices de consumo de crack.

    Solução urgente

    O médico psiquiatra do Instituto Meraki de Saúde Mental, Leonardo Rodrigues, destaca que a dependência química relacionada à cocaína e ao crack afeta milhões de pessoas. A busca por soluções, segundo ele, tornou-se urgente. Para ele, nesse cenário, a criação de uma vacina terapêutica é um grande avanço.

    O tratamento de dependências químicas tem várias fases, incluindo desintoxicação e reabilitação para tratar a abstinência. “Nesse intuito, são utilizadas algumas medicações para diminuir esses sintomas e fazer com que o paciente consiga se manter abstinente. A depressão, ansiedade e insônia também são tratadas dentro do âmbito da dependência química. Por isso, a vacina vai ter um papel muito importante para aumentar essa taxa de resposta”, aponta Rodrigues.

    Ele explica que o papel da Calixcoca no tratamento. “A recaída dos pacientes interrompe o ciclo de melhora. A intenção da vacina é impedir a passagem pela barreira hematoencefálica. Com isso, não vai acontecer o efeito psicotrópico da droga, diminuindo a ativação do sistema de recompensa. Isso pode prevenir uma recaída”, completa.

    Próximos passos

    O futuro da pesquisa ainda depende de alguns passos. “Temos que refazer alguns pequenos estudos que são necessários para o registro, e assim que a Anvisa der o sinal verde, faremos um estudo de fase 1 (em humanos). Com esse estudo, será possível saber duas coisas: primeiro, se a vacina produz anticorpos em humanos. E segundo, se tem algum efeito colateral que impeça o prosseguimento”, diz o pesquisador Frederico Garcia.

    Ele ainda explica que a testagem em humanos só ocorrerá após a aprovação da agência de vigilância e que o primeiro estudo deve acontecer dentro da universidade. “A gente faz questão de que o ‘First in Human’, que é o primeiro uso em humano, aconteça aqui, porque isso é importante para a cultura da universidade e para a cultura do país, no sentido de que a gente precisa começar a produzir produtos de alto valor agregado em vez de ficar só exportando.”

    A previsão é de que os estudos de fase 1 ocorram em até dois anos. E a expectativa da equipe de pesquisadores é de que a vacina se torne um produto definitivo nos próximos três ou quatro anos. “A dependência química é uma doença que priva a liberdade, a pessoa deixa de escolher usar ou não a droga. Qualquer remédio que ajude nesse processo vai ter um impacto importante para essas pessoas e para as famílias delas”, conclui o pesquisador.

    Com informações do Correio Braziliense

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