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Em 12 de maio de 1980, quarenta anos atrás, morreu Eurídice Ferreira de Melo, a Dona Lindu, mãe do Lula, e do Vavá, e do Frei Chico, e da Maria e de outros cinco filhos e filhas que sobreviveram à fome e à seca (outros quatro morreram antes de completar 5 anos de idade).

Naquele dia, Lula estava preso no Dops, com outros 12 sindicalistas, todos indiciados pela Lei de Segurança Nacional por promoverem greve.
Romeu Tuma, o diretor, autorizou a saída do futuro presidente da República para ir ao enterro da mãe.

Ele já havia autorizado sua saída dias antes, sem que ninguém soubesse, para visitar a mãe na casa da irmã Maria. Dona Lindu tinha um câncer no útero e o estado era grave. Lula saíra escondido numa veraneio do Dops depois das 23h, visitara a mãe e voltara para a cela.

Na manhã de 12 de maio, uma segunda-feira, logo após o Dia das Mães, Lindu faleceu. A equipe do Dops ficou preocupada.

A soltura do Lula, mesmo que por um par de horas, poderia causar tumulto e revolta. Os agentes temiam a aglomeração de pessoas junto ao cemitério da Vila Paulicéia, em São Bernardo. E se resolverem sumir com o Lula? Havia quem desconversasse: “Ninguém sabe quem é Dona Lindu; não vai aparecer ninguém nesse enterro”. Outros presumiam a calma do preso famoso: “Ele é mole, não vai tentar nada de errado”.

E havia ainda os mais estratégicos, tarimbados pela experiência da guerra política: “Se Lula fugir, vai precisar sair do país e isso desmoraliza o movimento. O movimento sindical do ABC acaba em duas semanas”.

Em frente ao cemitério, havia uma multidão naquele dia. Metalúrgicos do ABC compareceram em peso para prestar solidariedade e, principalmente, rever o líder. Muitos clamavam pela sua soltura. Era o “Lula Livre”, décadas antes do “Lula Livre”. Gritavam, alguns jogavam pedras. Lula desceu sem algemas, encontrou Marisa e depediu-se da mãe.

Quando voltou à veraneio, o carro foi cercado e chacoalhado, por certo o virariam em poucos minutos. Lula pediu que parassem. Disse que voltaria à cela, que estava sendo bem tratado, que não havia apanhado e que, em breve, estaria de volta às ruas.

Dona Lindu foi sempre a maior referência de Lula. Sua história é a história de uma sobrevivente, de uma mulher forte que ousou resistir à fome e à seca, migrar e persistir. Foi uma leoa, e, segundo os irmãos, Lula era seu preferido. Não viveu para ver o preferido virar deputado, nem presidente, nem personagem de filme, nem candidato ao Nobel da Paz.

Mas transmitiu ao filho o maior ensinamento que ele, hoje septuagenário, continua prezando mais do que todos os outros: “tem que teimar”, ela dizia.