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“O que impacta é que tamanho aumento do volume de deslocamento não causou estranheza à direção da PRF”, escreve Denise Assis

O processo de deslegitimação das eleições ocorridas em outubro de 2022 foi meticulosamente preparado e teve respaldo substancial de grupos e empresas do setor do Agronegócio, conforme as investigações oficiais promovidas logo após os atos de terror do 8 de janeiro elucidaram. E como a sociedade brasileira sempre suspeitou.

O trabalho, de extrema competência e feito nos dias imediatamente após o ocorrido – possibilitando verificar os fatos ainda a quente – reuniu elementos minuciosos, trazendo à luz, para que fossem investigados, os personagens de destaque comprometidos com a ação golpista.

Todo o material reunido foi entregue à CPMI, no mês de julho de 2022. A três meses, portanto, da conclusão e entrega do relatório final (17 de outubro de 2022). Os subsídios ali esquadrinhados estão nas mãos das autoridades competentes para que deem continuidade às apurações e eventuais punições. São análises e documentos produzidos dentro da oficialidade.

“Após o término da eleição, iniciou-se o movimento de tentativa de deslegitimação do processo eleitoral. Sua vertente ostensiva consistiu na concertação de quatro tipos de ações: bloqueios rodoviários, acampamentos em frente a organizações militares, comboios de caminhões com destino a Brasília e atentados contra infraestruturas”, esclarece o relatório dos investigadores.

O movimento, que se estendeu ao longo de novembro e dezembro de 2022 e culminou com a invasão das sedes dos Três Poderes em 8 janeiro de 2023, guarda semelhança com a mobilização realizada entre 6 e 10 de setembro de 2021, que reivindicava intervenção militar e concessão de maiores poderes ao então Presidente da República. Uma dessas semelhanças foi o deslocamento de comboios de caminhões para capital federal. Foram identificados 272 caminhões que seguiram para Brasília a partir de 4 de novembro de 2022. Quase todos eram oriundos de quatro estados: Mato Grosso, Goiás, Bahia e Paraná.

O que impacta ao ler o relatório é que tamanho aumento do volume de deslocamento não tenha causado estranheza à direção da Polícia Rodoviária Federal. Não por acaso, o diretor da PRF, Silvinei Vasques, à época à frente da instituição, encontra-se preso e acusado de usar o cargo para interferir na campanha eleitoral.

Não se sabe até quando, pois no dia 21 de dezembro passado (2023), a Justiça Federal no Rio de Janeiro absolveu o ex-diretor da PRF, Silvinei Vasques, em ação de atividade administrativa na qual ele foi acusado de usar o cargo em campanha eleitoral. O juiz responsável pela ação, José Arthur Diniz Borges, porém, rejeitou a acusação, buscando respaldo para a sua decisão, na nova Lei de Improbidade Administrativa, em vigor desde 2021. A novidade é que a lei agora estabelece que a irregularidade descrita precisa estar enquadrada “de forma taxativa” nesse conceito legal para merecer punição. Detalhe: o magistrado que interpretou o caso desta forma foi homenageado pela PRF, mas não se julgou impedido.

Pessoas jurídicas do Agro financiaram os comboios dos caminhões

De acordo com o que consta das investigações, “cerca de metade dos caminhões que se dirigiram a Brasília naquele período está registrada em nome de pessoas jurídicas, atuantes sobretudo no setor do agronegócio. Da metade restante, a maior parte pertence a indivíduos que possuem participação societária em grupos econômicos majoritariamente ligados ao agronegócio”. Diz, ainda, que “a adesão de caminhoneiros autônomos foi residual, não tendo ocorrido adesão da categoria ao movimento, tal como observado, também, em setembro de 2021”.

Após o término da eleição presidencial de 2022, teve início o movimento visando contestar o resultado da eleição. Destacaram-se as ações descritas acima: as desencadeadas em sincronia a partir da noite de 30 de outubro de 2022: (1) – bloqueios rodoviários; (2) – instalação de acampamentos em frente a organizações militares (OM) em todos os estados e (3) – deslocamento de caminhões em comboios com destino a Brasília.

Na capital federal os comboios tinham como ponto de concentração o acampamento instalado em frente ao Quartel-General do Exército (QGEx), no Setor Militar Urbano. O quarto tipo de ação consistiu em quatro atos de vandalismo e atentados contra infraestruturas (uma delas, o aeroporto internacional de Brasília, na véspera de Natal).

Desencadeados mais tarde, a partir de meados de novembro de 2022, os atentados incluíram sabotagem de pontes e ataque contra base de apoio de uma empresa concessionária de rodovia, além de torres de transmissão de energia.

Dos 272 caminhões identificados que integraram tais comboios, 93,38% estão registrados em apenas quatro estados: Mato Grosso (136 caminhões, ou 50% do total); Bahia (46 caminhões), Goiás (46 caminhões) e Paraná (26 caminhões). De Sorriso/MT e Luís Eduardo Magalhães/BA partiram a maioria dos caminhões, 72 e 22, respectivamente.

Verificou-se, ainda, que 132 caminhões (48,5%) estão registrados em nome de pessoas jurídicas, o que indica o envolvimento de grupos empresariais no financiamento ao acampamento em frente ao QGEx. Os demais caminhões (140 ou 51,5% do total) estão registrados em nome de pessoas físicas. Todavia, não pertenceriam, em sua maioria, a caminhoneiros autônomos.

Grande parte dos identificados como proprietários possui participação societária relevante em empresas de médio porte do setor do agropecuário. A idade dos caminhões reforça o indício de envolvimento de grupos empresariais. Veículos de caminhoneiros autônomos têm, em média, 18,4 anos de uso. No entanto, aproximadamente 65% dos caminhões presentes nos comboios são novos e seminovos (ano modelo a partir de 2019). Somente 18 dos 272 caminhões analisados (6%) têm 18 anos ou mais.

Os comboios trafegaram principalmente por importantes rodovias, tornando impossível a não percepção do aumento de fluxo desse tipo de veículo: BRs -163; 158; 060 e 020.

A BR-163 é uma rodovia longitudinal do Brasil. Possui 3579 km em sua extensão total e seu trecho principal liga as cidades de Tenente Portela, no Rio Grande do Sul, a Santarém, no Pará. ABR-158 é uma rodovia federal, que atravessa o país de norte a sul. Inicia-se na cidade de Redenção, no Pará, passando pelos estados do Mato, Goiás, Mato Grosso do Sul, São Paulo; Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, terminando no município de Santana do Livramento, cidade próxima à fronteira com o Uruguai. Quanto à BR-060 é uma rodovia federal radial brasileira. Seu ponto inicial fica na capital, Brasília (DF) e o final, em Bela Vista (MS), na fronteira com o Paraguai. A BR-020 é também uma rodovia federal radial. Seu ponto inicial fica na capital federal e o final, em Fortaleza, passando pelos estados de Goiás, Bahia, Piauí e Ceará.

O mapeamento das rotas percorridas pelos comboios revela quatro fluxos principais de deslocamento. O primeiro e o segundo fluxos são formados por caminhões oriundos de municípios de Mato Grosso, que se deslocaram pela BR-163 e pela BR-158. A maioria dos caminhões identificados (135) percorreu o caminho para Brasília pelo eixo rodoviário BR-163. Esse foi o principal fluxo, compreendendo caminhões provenientes principalmente de Sorriso/MT, Tapurah/MT, Campo Novo do Novo do Parecis/MT e Nova Mutum/MT. Já a maioria dos caminhões provenientes da BR-158 são registrados no município de Água Boa/MT Parecis/MT.

O terceiro fluxo foi formado majoritariamente por caminhões oriundos de Goiás, sobretudo Rio Verde/GO e Jataí/GO, que percorreram a BR-060, e o quarto fluxo, por caminhões de Luiz Eduardo Magalhães/BA, que seguiram caminho pela BR-020. Além disso, foram identificados veículos que chegaram a Brasília dispersos, sem indícios de deslocamento coordenado.

O cruzamento entre as unidades federativas (UF) de origem das placas dos caminhões e os eixos de deslocamento demonstram participação de caminhões registrados no Paraná movimentando-se a partir de Mato Grosso, o que sugere participação de grupos empresariais do Paraná que operam no Mato Grosso.

Diversos caminhoneiros empregados em comboios, em diversos eixos, de acordo com as investigações, “estão registrados por 12 empresas. Todas elas operam em atividades relacionadas ao agronegócio”.

(Confira abaixo a tabela dos empresários que forneceram ou financiaram os comboios golpistas para o período de novembro de 2022 (preparação), dezembro (tentativas golpistas) e o 8 de janeiro.

Eixo – BR-163; Empresa – Sipal Indústria e C.Ltda. Caminhões – 10; Municípios-UF – Paranaguá/PR; Descrição – Moagem e fabrico vegetal, animal, criação de bovinos, suínos, aves e outros; Contas bloqueadas – STF; Faturamento em 2021 – R$ 250.006.540,00

Eixo – BR-163; Empresa – Dalila Lermen Ltda. Caminhões – 6; Municípios-UF – Sorriso/MT; Descrição – Transporte de carga; Contas bloqueadas – STF; Faturamento em 2021 – R$ 2.900078,12

Eixo – BR-163; Empresa – Transportadora Rovaris Ltda. Caminhões – 5; Municípios-UF – Sorriso/MT; Descrição – Transporte de carga; Contas bloqueadas – STF; Faturamento em 2021 – R$ 9.000.234,36

Eixo – BR-158; Empresa – Agritex Comercial Caminhões – 5; Municípios-UF – Água Boa/MT; Descrição – Comércio atacadista de máquinas pecuárias; Contas bloqueadas – STF; Faturamento em 2021 –R$ 80.002.093,00

Eixo – BR-158; Empresa – Vape Transportes Caminhões – 8; Municípios-UF – Água Boa/MT; Descrição – Transporte de carga; Contas bloqueadas – STF; Faturamento em 2021 – R$ 3.500.000,00

Eixo – BR-060; Empresa – Comércio e Transportes Comelli Ltda. Caminhões – 7; Municípios-UF – Rio Verde/GO; Descrição – Transporte de carga; Contas bloqueadas – STF; Faturamento em 2021 – R$ 12.000.312,50

Eixo – BR-060; Empresa – Armazéns Gerais Paraíso Ltda. Caminhões – 3; Municípios-UF – Jataí/GO; Descrição – Comércio atacadista de máquinas pecuárias; Contas bloqueadas – STF; Faturamento em 2021 – R$ 27.000.708,70

Eixo – BR-060; Empresa – Armazéns Gerais Mourão Ltda Caminhões – 2; Municípios-UF – Jataí/GO; Descrição – Transportes de carga; Contas bloqueadas – Sem bloqueio; Faturamento em 2021 – R$ 3.000.078,12

Eixo – BR-020; Empresa – Transportadora Denardin Ltda. Caminhões – 3; Municípios-UF – Correntina/BA; Descrição – Transportes de carga; Contas bloqueadas – Sem bloqueio; Faturamento em 2021 – R$ 4.400.117,18

Eixo – BR-020; Empresa – Accert Trasportes Caminhões – 2; Municípios-UF – Luís Eduardo M./BA; Descrição – Transportes de carga; Contas bloqueadas – Sem bloqueio; Faturamento em 2021 – R$ 11.000.290,00

Eixo – BR-020; Empresa – Agrowalker Serviços Ltda. Caminhões – 2; Municípios-UF – Luís Eduardo M./BA; Descrição – Transportes de carga; Contas bloqueadas – Sem bloqueio; Faturamento em 2021 – R$ 8.000.206,46

OBS: Oito indivíduos têm registrados em seus nomes vários caminhões empregados nos comboios. Todos possuem participação societária em pelo menos uma empresa vinculada ao agronegócio.

Eixo – BR-163; Nome – Alexandro Lermen Caminhões – 7; Descrição – Sócio de empresas: Agropecuária Campo Santo Ltda; Agropecuária Dona Hilada Ltda.; Contas bloqueadas – STF

Eixo – BR-163; Nome – Arino Bedin Caminhões – 5; Descrição – Sócio de 11 empresas diferentes; Contas bloqueadas – STF

Eixo – BR-163; Nome – Fabiano Rodrigo Fiat Caminhões – 4; Descrição – Sócio de três empresas: FJF Transportes e Logísticas Ltda.; FA Incorporadora; Construtora Imobiliária Ltda. e Concrelider Concretos Usinados Ltda. Contas bloqueadas – Sem bloqueio.

Eixo – BR-163; Nome – Edilson Antonio Piaia Caminhões – 3; Descrição – Possui vínculos com 12 empresas Diferentes, a maioria ligada ao agro. Presidente da Associação Produtores da Linha Santa Maria e diretor da Cooperativa dos produtos de algodão – Campo Novo do Parecis/MT(COPAC); Contas bloqueadas – Sem bloqueio

Eixo – BR-163; Nome – Evandro Bedin; Caminhões – 3; Descrição – Participação societária relevante em três empresas vinculadas ao agro; Contas bloqueadas – Sem bloqueio

Eixo – BR-060; Nome – Caio Garcia Pereira; Caminhões – 4; Descrição – Sócio de empresas: Araújo Garcia Incorporadora de Empreendimentos Imobiliários Ltda, Center Plaza Incorporadora e Administradora de Imóveis Ltda.; Center Plaza Ltda.; Famóveis Fábrica e Comércio de Móveis Ltda.; Garcia Agropecuária Transportes Ltda. Contas bloqueadas – STF

Eixo – BR-020; Nome – Laert Baechtold; Caminhões – 2; Descrição – Sócio de três empresas: Cialever Agronegócios Ltda.; Cialog Ltda.; e Ciaseeds Agronegócios Ltda.Transportes.; Contas bloqueadas – Sem bloqueio.

Eixo – Disperso; Caminhões – 2; Descrição – Possui 60% de participação na empresa Agrohernandes Transportes e Serviços Ltda. Contas bloqueadas – Sem bloqueio.

Com informações do Brasil 247

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