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O marechal Odylio Denis e os generais Olímpio Mourão Filho, com seu tradicional cachimbo, Carlos Luiz Guedes (ao fundo, de óculos escuro) foram os líderes militares do golpe de 1964. O então governador de Minas Gerais, Magalhães Pinto, foi o líder civil

Por Geraldo Elísio*

1950 havia ficado para trás, em forma de triste lembrança.

O Brasil era bicampeão mundial de futebol (1958 e 1962), encantando o mundo.

Nova década iria começar, as dificuldades aflorando na política.

Acreditávamos, nós brasileiros, em um novo Brasil impulsionado por Juscelino Kubitschek, conhecido pela sigla JK.

O destino, porém, resolveu escrever por linhas tortas.

Amplo espaço pra novo golpe de estado.

Quanta tristeza, meu Deus! E memoráveis lutas sequenciais.

Vietnã escrevendo sua trágica história.

O Brasil novo, de JK, sonho de todos, aberto espaço a ditadores e desilusões.

Sina ou desígnios!?

Quartéis em polvorosa.

Homem ganhando o espaço sideral.

A gente perdendo tempo.

Em 31 de março de 1964, eu tinha 22 anos de idade, trabalhava como repórter da ZYU-4 Cultura, de Sete Lagoas, em Minas.



Dormindo na redação, acordei com tropas nas ruas. Restava-me a reportagem.

Esquerdistas e direitistas em confronto. Ganhando os segundos. Já era veterano de 61.

Cenário: o então Tiro de Guerra de Curvelo – TG 261.

O doutor Evaristo de Paula era o prefeito de Curvelo. Vasconcelos Costa, prefeito de Sete Lagoas.

Ambos arregimentando “guerreiros” em suas respectivas cidades.

Governava Minas o banqueiro Magalhães Pinto, denominado líder civil do golpe.

General Olímpio Mourão Filho e governador Magalhães Pinto comemoram o sucesso do golpe de 1964. Foto: Aquivo/ O Cruzeiro

Porém, a verdade verdadeira sobre o golpe de 1964 custou a aparecer.

Isso só começou a acontecer em dezembro de 1976, quando Marcos Sá Correa, então correspondente do Jornal do Brasil, denunciou em primeira mão a Operação Brother Sam.

Através da Lei de Acesso à Informação, que já existia nos EUA, o jornalista obteve acesso a documentos desclassificados sobre a participação dos EUA no golpe de 64, que estavam na biblioteca Lyndon Johnson, no Texas.

Entre os documentos, detalhes da Operação Brother que  era nada mais nada menos do que um plano de contingência do governo dos EUA, que enviou parte da frota naval americana no Caribe em direção ao porto de Santos com 100 toneladas de armas leves, munições, carregamentos de petróleo e aviões de caça para apoiar militarmente o golpe, caso houvesse resistência ao golpe

Lyndon Johnson presidiu os EUA de novembro de 1963 a janeiro de 1969. Para contrapor o rótulo de caipira, se orgulhava de dizer que foi ele quem salvou o Brasil de cair na órbita comunista.

No ano seguinte, em 1977, o major brasileiro Paulo Viana Clementino, que era chefe do Estado Maior Revolucionário em 1964, em entrevista que me concedeu disse com todas as letras: “64 foi um golpe bem dado e mal acabado porque terminou nas mãos da UDN”.

Leia-se a antiga União Democrática Nacional, de Carlos Lacerda e Magalhães Pinto, que eram governadores do Rio de Janeiro e Minas Gerais, respectivamente.

Também em 1977, o general do Exército José Lopes Bragança, anticomunista ferrenho, em entrevista que me concedeu, publicada em janeiro de 1977 no jornal O Estado de Minas,  revelou detalhes de um tenebroso plano para assassinar o presidente João Goulart, oJango.

Este repórter foi o primeiro a denunciar isso.

Sem rodeios, o general José Lopes Bragança assumiu ter liderado um grupo encarregado de assassinar o ex-presidente João Goulart, se ele tivesse viajado a Belo Horizonte uns poucos dias antes do golpe.

Seria durante um comício que Jango faria em 21 de abril de 1964, na Praça da antiga Estação Férrea Central do Brasil, hoje estação central do metrô de superfície de Beagá.

Segundo o general José Lopes Bragança, o coronel José Oswaldo Campos do Amaral Cascavel, um campeão de tiro, já teria até sido escolhido para a fatídica missão, que acabou não acontecendo.

Tenho tudo isso documentado e guardado, inclusive as laudas do jornal em que transcrevi a entrevista.

Exceto a página que está abaixo, onde general José Lopes Bragança narra o planejamento do crime.

Eu dei esta lauda de presente ao filho de Jango, o então deputado federal João Vicente Goulart, durante um almoço em Belo Horizonte.

Continuando a linha do tempo, outras revelações importantes sobre o golpe de 1964.

Lincoln Gordon, Philip Agee e Magalhães Pinto. Fotos: Reprodução

Em entrevista publicada na revista Veja, de 15 de outubro de 1997, Lincoln Gordon,  ex-embaixador dos EUA no Brasil, declarou ao repórter Eurípedes de Alcântara:

— Mesmo assim no dia do golpe, os navios…

— Não foi o governo [EUA], fui eu quem encomendou à CIA o envio do porta-aviões Enterprise ao Brasil, em 1964.

A repórter Cláudia Furiati também tratou do golpe de 64 na entrevista com o ex-agente da CIA Philip Agee, publicada em setembro de 1997 pela revista IstoÉ.

— Em que medida a CIA participou do golpe militar do Brasil em 64? – perguntou-lhe Furiati.

– A preparação do golpe visando à derrubada de Goulart … – começou a responder-lhe Agee .

Ou seja, o ex-agente da CIA aceitou com naturalidade e confirmou o vocábulo golpe.

Agee ficou conhecido após publicar, em 1975, o livro Inside the Company: CIA Diary (Por dentro da Companhia: Diário da CIA).

No livro, ele descreve em detalhes e com documentação, o envolvimento da CIA com empresas americanas bem como o papel da agência dos Estados Unidos em vários assassinatos, golpes de estado e atividades ilegais na América do Sul e Central.

– Foi então a CIA que realizou o golpe militar de 1964? – voltou a questionar Furiati.

— Sem sombra de dúvida – disse-lhe Agee.

São 60 anos como repórter. Sempre vividos com lutas, frustrações e tragédias mas também com vitórias, como a nossa própria História do Brasil.

*Geraldo Elísio é jornalista, repórter premiado, trabalhou em vários jornais da imprensa mineira. É autor do livro “Baú de Repórter – Memórias do Jornalismo Analógico” (Editora Neutra, 2016)

Com informações do VioMundo

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