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Em 2023, 90 acidentes fatais aconteceram nas vias do Distrito Federal. Para especialistas, redução da velocidade, em especial no Eixão, é necessário, diante da falta de segurança para pedestres passarem por passagens subterrâneas

A redução dos limites de velocidade em avenidas da capital federal sempre é alvo de debates pela população, principalmente quando há registros de sinistros, sejam eles envolvendo veículos ou atropelamento de pedestres. Especialistas ouvidos pela reportagem apontam que com o crescimento populacional, há necessidade de revisão de avenidas dentro da cidade, como o Eixo Rodoviário de Brasília, o Eixão.

Inaugurada junto com Brasília, em abril de 1960, o Eixão é uma das vias que ligam o Plano Piloto de Norte a Sul. Especialistas citam que propostas para a redução da velocidade, para 60 km/h — assim como ocorre no Eixinho —, deve-se, além do crescimento da cidade em torno da via, também pela falta de segurança das passagens subterrâneas, forçando que pessoas tentam atravessar a avenida com veículos em alta velocidade.

“Abaixar a velocidade sempre é interessante. Muitas propostas citam 60km/h e, de fato, é uma velocidade interessante ao Eixão, tendo em vista que é praticado em outras vias rápidas no Plano Piloto, como o próprio Eixo Monumental. Há registros de acidentes sempre e, sobre atropelamentos, mostra que não há condições das passagens subterrâneas”, explica o professor de engenharia da Universidade Católica de Brasília (UCB) e doutor em transportes Edson Benício.

Para ele, a redução da velocidade da via deve ser alvo de debates. No caso do Eixão, o tema precisa ser enfrentado em duas frentes: a velocidade máxima permitida e a possibilidade de mais segurança nas passagens subterrâneas. “As pessoas devem ser incentivadas a passar nas passagens, mas é necessário garantir condições seguras às pessoas. Isso pode estar ligado para que haja atropelamentos, como o que ocorreu no início do mês”, explicou.

“Uma possibilidade é mudar a característica do Eixão, passando a ser uma via de ligação rápida, mas é necessário passar por uma série de estudos. O fluxo de veículos é grande na região, principalmente no horário de pico. Mas, ao meu ver, reduzir a velocidade e investir na sinalização, com faixas de pedestres, ou segurança e iluminação nas passagens é o caminho. Acredito que uma mudança seria de muita resistência dos motoristas”, completou o especialista.

Para a professora da Universidade de Brasília (UnB) e especialista em trânsito, Zuleide Feitosa, o centro de Brasília evoluiu nos últimos anos e, em especial o Eixão, traz ao cenário um problema grave. De acordo com a especialista, a velocidade máxima da via é baseada na legislação federal, mas os 12,4km de extensão do Eixão são dentro de um perímetro urbano. “É uma BR passando no centro e no coração da capital federal. A legislação nos dá essa possibilidade de manter em 80 km/h, mesmo que esteja dentro de um centro urbano. Mas, precisamos de um debate acerca do assunto, porque é uma cultura antiga, de uma via urbana que é federal e que passa dentro de uma cidade”, disse.

Zuleide acrescentou que o tema é relevante para debate acerca da velocidade máxima do Eixão, já que é noticiado muitos acidentes na região. A especialista, no entanto, pontuou que o assunto não exime que o Poder Público ligado a segurança atue na região, principalmente pelo temor de muitos pedestres em passar por baixo da via.

“O nível de segurança do pedestre é quase 0. Por cima, corre o risco de ser atropelado e, por baixo, pode ser alvo de crimes e abusos. Não há segurança pública. Existe necessidade para discussão, e quem sabe um projeto de lei possa alterar a velocidade da via. Ao meu ver, é uma das maneiras mais eficazes, porque pessoas perdem vidas ao tentar fugir de serem violados”, disse.

Risco de atravessar

O comerciante Rafael Silva, 24 anos, é um dos exemplos que prefere atravessar correndo pela pista, de 80 km/h, ao invés de passar pelas passagens subterrâneas. À reportagem, ele contou que tem receio de ser assaltado. “Direto acontece assaltos nessas passagens subterrâneas, inclusive um tempo atrás, uma mulher chegou a ser esfaqueada”, relembrou. “Além disso, fica mais perto da parada para mim, porque é menos arriscado atravessar por baixo”, completou.

Neide Marques, 40, trabalha como cuidadora de idosos na Asa Sul e usa a passagem pelo menos cinco dias por semana. “É muito perigoso, já fui assaltada duas vezes. A mais recente, um homem ficou parado na minha frente, pediu para eu dar meia volta e levantar a blusa. Ele não tinha aparência de quem iria me roubar. Pelo menos não levou o dinheiro da minha passagem. Aqui é muito perigoso, há alguns meses atrás era muito comum ver policiais aqui. Nunca mais vi isso”, cita.

A trabalhadora conta que só não se arrisca atravessando entre os carros por conta do medo. “Fico travada, não consigo passar correndo. O governo poderia voltar com a ação de colocar segurança nesses becos. Aquilo nos passava uma grande segurança. Da forma que está, fica difícil. As duas opções eu tenho muito receio”, pontua.

Tamires Fernanda, 29, relatou ter medo de ser atropelada, e por isso opta por passar pelas passagens subterrâneas do Eixão. A cozinheira pediu providências ao Poder Público, já que as duas opções ao pedestre são arriscadas. “Poderia ter um policiamento fazendo uma patrulha, pois moradores de rua ficam aqui embaixo e querendo ou não as pessoas ficam com receio”, argumentou ela. “Não sei o que é pior: atravessar por cima, quase sendo atropelada, do que passar por aqui (passagem subterrânea) e ser assaltada. É ruim de qualquer forma”, completou.

Estrutura

Após um ano de obras, a Via Estrutural foi entregue pelo governo do Distrito Federal. No entanto, a via é alvo de solicitações da oposição na Câmara Legislativa (CLDF). Um ofício encaminhado pelo presidente da Comissão de Transporte e Mobilidade Urbana (CTMU), Max Maciel (PSol) a Secretaria de Transporte e Mobilidade do Distrito Federal (Semob-DF), o parlamentar pede que seja reduzida a velocidade máxima da pista, principalmente com as chuvas intensas e a ausência de proteção da via.

A proposta ocorreu após uma caminhonete bater de frente com um ônibus na Estrada Parque Indústria e Abastecimento Sul (Epia Sul) e um homem morrer. Para o parlamentar, o acidente chama a atenção para que haja uma revisão do limite de velocidade das vias da capital federal. “O governo projetou uma cidade para carros, mas não deu a mínima estrutura para os motoristas. Quando abriu o DER sem estrutura, o governo assume o risco de dolo das pessoas, porque não há guard rail para proteger em caso de acidentes”, explica o parlamentar.

O DER ainda trabalha no local, com obras de nivelamento e paradas de ônibus. O departamento prevê que até o fim do mês, sejam instalados cinco pardais de velocidade. A velocidade, no entanto, deve permanecer a mesma.

Respostas

À reportagem, o DER não respondeu sobre planos de redução da velocidade da avenida, abrindo a possibilidade para medidas como a instalação de faixas de pedestres. A pasta não possui número de acidentes que ocorreram na via no último ano, mas apresentou que de janeiro a 30 de novembro de 2023, ocorreram 90 acidentes fatais em todas as vias monitoradas pelo departamento.

A Secretaria de Segurança do Distrito Federal (SSP-DF) informou que não possui um recorte de crimes que ocorreram nas passagens subterrâneas em 2023. A pasta explicou, em nota, que a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) usa motocicletas para policiamento na região, mas que “não há muitos chamados para crimes ocorridos nestes locais”.

Procurada, a Secretaria de Desenvolvimento de Urbano e Habitação do Distrito Federal (Seduh) explicou que na revisão do Plano de Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília (PPCUB), traz diretrizes para que sejam revistas as passagens subterrâneas, as tornando mais abertas, seguras e fluidas. A proposta foi aprovada no Conselho de Planejamento Territorial e Urbano do Distrito Federal (Conplan) e deve ser submetida aos deputados distritais ainda este ano.

Com informações do Correio Braziliense

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